A Menina que Sabia Nevar







No princípio, era um quarto vazio, um pouquinho de espaço, um pouquinho de luz, um pouquinho de tempo.
Eu disse: “Vou fazer campos”, e os fiz com toalhas de mesa, carpete, veludo marrom e feltro. Depois, fiz rios de papel crepom, filme plástico e papel-alumínio brilhante, montanhas com papel machê e cascas de árvore. E olhei para os campos e olhei para os rios e olhei para as montanhas e vi que isso era bom.
Eu disse: “Agora um pouco de luz”, e fiz um sol com uma gaiola de metal envolta em colares de contas pendurados, fiz uma lua crescente, estrelas luminosas e, na beirada do mundo, um mar com um espelho, refletindo o céu, osbarcos, os pássaros e a terra (onde se tocavam). E olhei para o sol e olhei para a
lua e olhei para o mar e vi que isso era bom. Eu disse: “Que tal umas casas?”. E fiz uma de capim seco, outra com um ronco de árvore oco e mais uma com um pote onde tinham vindo balas de
caramelo, e coloquei nela linha de pesca e uma vela, arrumei espaço para um cobertor, uma escova de dente em um copo e um forno, pus uma gaivota no alto do mastro (que na verdade era um cabo de vassoura) e a lancei ao mar (que na verdade era um espelho).

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