Resenha | Três coisas sobre você, de Julie Buxbaum



Setecentos e trinta e três dias depois da morte da minha mãe, 45 dias após o meu pai fugir para se encontrar com uma estranha que ele conheceu pela internet, 30 dias depois de a gente se mudar para a Califórnia e apenas sete dias após começar o primeiro ano do ensino médio numa escola nova onde conheço aproximadamente ninguém, chega um e-mail. Deveria ser no mínimo esquisito, uma mensagem anônima aparecer do nada na minha caixa de entrada, assinada com o bizarro nome Alguém Ninguém. Só que nos últimos tempos a minha vida tem estado tão irreconhecível que nada mais parece chocante..

Editora: Arqueiro | Número de páginas:  288 | Adicionar: Skoob


A Editora Arqueiro no mês de Junho fez uma aposta(Aposta ainda válida, confira às regras) que os leitores de livros juvenis iriam amar o lançamento Três coisas sobre você, de Julie Buxbaum e se não amassem eles garantiam o dinheiro de volta, ou se o leitor preferisse poderia trocá-lo por outro livro do selo Arqueiro de mesmo valor.

Movida por está curiosidade e aposta iniciei a leitura com uma expectativa moderada, foi uma leitura lenta que pouco a pouco, dia após dia eu lia algumas páginas até chegar no emocionante final. Eu recomendo que leia este livro assim como fiz, é um livro juvenil com conteúdo simples sem censura e no meu caso foi a melhor decisão que eu fiz, lê-lo aos poucos, pois a cada página eu me deliciava com o que era revelado e a cada pausa a minha expectativa aumentava o que me levou a um resultado positivo sem arrependimentos. 

A sinopse revela boa parte do drama iniciado pela personagem principal que após mudar-se com o seu pai para Califórnia sofre bastante pela ausência de sua mãe que somando-se à nova relação de seu pai com uma completa desconhecida e os tormentos acrescentados ao seu frágil emocional ao iniciar o primeiro ano do ensino médio em uma nova escola deixa seu cotidiano pesado demais para suportar sozinha.


    Estou mais perdida, confusa e sozinha do que nunca. Não, o ensino médio não vai ser uma época que vou recordar com carinho. Uma vez a minha mãe me disse que o mundo é dividido em dois tipos de pessoa: as que adoram os anos do ensino médio e as que passam a década seguinte se recuperando deles. O que não mata fortalece. 
    Mas alguma coisa matou a minha mãe, e eu não estou mais forte. Então veja bem, talvez exista um terceiro tipo de pessoa: as que nunca se recuperam completamente do ensino média.

Em Três coisa sobre você somos apresentados a jovem de dezesseis anos, Jessie. Há dois anos após a morte de sua mãe, Jessie é obrigada a mudar-se de Chicago para Los Angeles após decisão de seu pai ir morar na casa de sua nova namorada, Rachel

Rachel além de extremamente rica, é viúva e tem um filho de dezesseis ano chamado Theo

Rachel e Theo são os personagens secundários deste juvenil e não posso deixar de citar os dois que durante o enredo inicial são mal interpretados, acredito que até mal julgados assim como o pai de Jessie. 

Jessie e Bill, seu pai, após tão pouco tempo de luto mudam suas rotinas completamente ao viverem ao lado de pessoas tão diferentes de uma forma repentina que até para mim foi muito estranho ver duas famílias incompletas  se unir em tão pouco tempo sem antes ter tido algum convívio, ou mesmo um contato que não tenha sido de forma online. 

A verdade é que este livro se inicia de uma maneira muito estranha, se bem após refletir um pouco é algo muito moderno e acredito que isso já tenha acontecido com  alguém em algum lugar do mundo, então antes de fazer comentários negativos a respeito deste enredo eu aconselho primeiramente ler e conhecer os personagens e suas motivações. Rachel,  Theo e o AN se tornaram os meus personagens favoritos por diversos motivos, tudo em torno deles é admirável e encantador assim como a luta de Jessie e seu pai em se encaixar nesta nova realidade.



Como dito, Jessie vê seu cotidiano se alterar completamente e acrescentar ao seu emocional - já abalado devido ao falecimento de sua mãe - mais angustias, e receios. Desde o primeiro dia de aula em sua nova escola sofre bullying por ser caracteristicamente uma típica garota de Chicago sem muito luxo, ou riqueza. Seus colegas de classe, assim o seu meio-irmão, são ricos e fazem questão de mostrar o quanto podem aos outros. O colégio WV é a aquela escola típica de filmes americanos frequentada por jovens belos e populares que levam a sério a disputa pela coroação de rei e rainha do baile mesmo sabendo que o casal mais popular da escola será o coroado. 

A sua situação seria muito pior se após o primeiro dia de aula Jessie não tivesse recebido um e-mail anônimo de alguém que se alto denomina Alguém Ninguém(AN). Inicialmente Jessie cogita a possibilidade de que seja só alguém da escola querendo lhe pregar uma peça para ser motivo de gozação de todos, mas ao conversar com AN percebe que é alguém bem intencionado que está sempre a observando durante o seu horário escolar mas que obviamente não quer mostrar sua identidade, pelo menos não enquanto não tiver sua total confiança, ou amizade. 

AN é alguém digno de muita admiração e possuí uma história tão triste e é tão solitário quanto Jessie. Desde o primeiro e-mail onde se dispõe a ajudar Jessie a entender os grupos sociais da escola e a conselhá-la a fazer amizades com pessoas específicas que iriam mostrar solidariedade e a ajudariam a superar o que posteriormente viria a sofrer diante de algumas pessoas da escola ele se tornou essencial na vida de Jessie e arrisco dizer que em sua vida. Essa atitude de AN mesmo que de forma anônima é muito solidária e mostra zelo ao próximo de uma forma tão intensa que chegou a me comover, isso somando a história de vida de Jessie tornou está história muito emocionante.

AN praticamente a apresenta a suas duas novas melhores amigas, Dri e Agnes.  Essa dupla inseparável é engraçada e sempre têm algo a se comentar, ou a revelar. Se tornaram amigas de Jessie e assim como AN informou, elas ajudaram no processo de superação das brincadeirinhas e comentários maldosos. 

   - É sério isso? - diz Theo, e a princípio acho que ele está falando comigo, e me sinto tão sozinha que sou capaz de chorar, aqui mesmo, agora mesmo. Finalmente fazer o que as pessoas querem. - Se encostar na Jessie de novo, juro por Deus que acabo com você. 
    O Theo está falando com a Gem, apontando o dedo na cara dela. Ele parece ameaçador, usando a própria versão de roupa para serviço comunitário: camisa de flanela xadrez tipo lenhador, calça jeans impecável de grife, tênis Timberland intencionalmente desamarrados. Ela simplesmente o encara, e vejo o chiclete parado idiotamente em sua boca.
  - Pisque uma vez para mostrar que entendeu o que eu disse - ordena ele. 

Mas, fica nítido que o título de herói de Jessie é de AN e Theo que no início se mostrou ser um garoto mimado e pretensioso que aparentemente só zelava sua vida social. Aos meus olhos aos poucos ele foi se transformando naquele personagem que se fosse retirado do enredo está história perderia um pouco de seu brilho, seu encanto.

E o Alguém Ninguém é aquela pessoa que se eu tivesse o poder daria um pedacinho seu a todos os jovens que sofrem bullying, ou que sofra com algum problema que por algum motivo afeta seu emocional seja levemente, ou intensamente. 

    (...) Ele está falando comigo sem falar comigo. Não sei o que está querendo dizer. Só sei que quero ficar olhando para ele. De novo, tudo é rápido demais para eu entender, e ao mesmo tempo lento demais, porque consigo ouvir as batidas do meu coração e o sangue correndo nas orelhas, sentir o calor da xícara de café nas mãos trêmulas. 
     O meu telefone toca. Chegou uma mensagem. Olho para baixo. Pego o aparelho. 
     AN: sou eu. 

A identidade do AN só é revelada no finalzinho do livro, e apesar da autora não ter feito mistério para os seus leitores em torno de quem era a pessoa por trás dos e-mails anônimos não deixou de ser uma revelação emocionante. Acredito que apesar de ter demorado tanto para Jessie saber quem era o AN foi correto o fim do mistério somente após todos os seus problemas serem superados. 

Como eu disse, Bill e Rachel tiveram seus motivos para mesmo diante de uma redoma de tristeza iniciarem um relacionamento à distancia e em tão pouco tempo formarem uma família, e é aqui que Julie Buxbaum nos passa uma bonita mensagem. De ante do sofrimento o melhor que temos a fazer é buscar meios para uma possível felicidade mesmo que o caminho seja difícil e incompreendido para os observadores.  

A Editora Arqueiro é muito boa em apostas. Eu adorei Três coisa sobre você e não o troco nem por Nutella!

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